sexta-feira, 5 de novembro de 2010


Ele chegou sorrateiro, como quem não quer nada. Observou o horizonte e a aurora, tentando nomear o som e as cores que o sol manifestava através daquelas aguas tão longe. Quis fechar os olhos para pensar, mas a beleza natural era muito grande para ser desperdiçada com seus pensamentos tão pessimistas. Não estava alegre, nem triste. Um misto de inseguranças e ausências se fazia presente, como todos os últimos dias de sua vida. Ao findar de cada dia era um alivio, mais um dia se passara e ele sobrevivera. Mas ao imaginar que após este dia viria outro igual, era um martírio. Precisava de um motivo, uma razão. Buscava um sentido, dar luz à escuridão. As suas perguntas nunca tinham respostas, e vivia angustiado, preenchendo os seus dias de solidão e lamentos. Mirava o horizonte daquele penhasco, ouvia o som do mar como uma melodia que invadia os seus sentidos. Procurava naquele vazio tudo o que precisava pra continuar a ter esperanças. E encontrou... Seus olhos a avistaram nas aguas, subindo e descendo no mesmo ritmo das ondas. O movimento de seus membros superiores e inferiores respondiam que ela ainda estava viva. Seus olhos desesperados acompanhavam o seu corpo num vai-e-vem contra as pedras de maneira brutal e descontrolada. Quis pular e ir ao seu encontro, dar socorro a uma voz que fora silenciada brutalmente pelas aguas límpidas daquele mar... Mas dentro de si ele sabia que seria em vão, era tarde demais. Não conseguiria salva-la nem a si mesmo. Duas vidas perdidas, e ele começou a pensar sobre quais motivos a fizeram estar ali. Em poucos segundos se apaixonou por ela. Uma mulher que não sabia a idade, a beleza, a personalidade; mas invejava a sua coragem e respeitava a sua vergonha. Queria conhece-la, saber o seu nome. Queria leva-la para jantar, presenteá-la com as mais lindas rosas que havia cultivado em seu jardim. Queria saber os seus problemas, as suas tristezas. Queria segurar a sua mão, e convida-la para dançar no palco de uma vida sofrida que insistia em colocar obstáculos para derruba-los. Mas todos os seus desejos foram silenciados quando viu o seu corpo desistir, afundando nas aguas e o deixando sozinho, com seus planos e pensamentos. Enxugou as suas lagrimas, suspirou e disse em voz alta: “Não se preocupe meu amor, a sua vida não foi em vão, pois acabou de salvar a minha.” (...)
"Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores                              
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores                               
Refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores       
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores

Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho                                 
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho       
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho                              

Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim"

(Vander lee)

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